Ele abriu a boca!
E por que ele abriu a boca?
Famoso por suas mímicas, Charles
Chaplin, foi um dos atores mais famosos da era do cinema mudo, mas um de
seus filmes em especial, chama a atenção, “O
Grande Ditador”, filme da década de 40 produzido, dirigido e estrelado pelo
humorista britânico, é o primeiro em que se ouve a voz de Charles Chaplin. E
por que ele resolveu falar?
Era inicio da Segunda Guerra Mundial quando o filme foi lançado,
satirizando o Nazismo e o Fascismo propagados por Adolf Hitler e Benito
Mussolini, na história, Chaplin interpreta um soldado durante a Primeira Guerra
Mundial, período em que a Europa passava por uma grande transição pós Revolução
Industrial, ótimo cenário para o artista proclamar seu discurso Marxista,
aliás, seus filmes sempre trouxeram uma mensagem anti-capitalista, por exemplo
em “Tempos Modernos”, filme em que Chaplin mostra com maestria os efeitos que o
desenvolvimento capitalista e seu processo de industrialização trouxeram à
classe trabalhadora.
O filme “O Grande Ditador” termina com um emblemático discurso de
Charles Chaplin, compare com os dias de hoje, veja a globalização, a nova
política mundial, a internet, não foi apenas uma critica genial, mas também uma
visão profética dos nossos dias, leia o discurso na integra e reflita um pouco.
O Último Discurso
"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu
ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de
ajudar - se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por
que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para
todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossa necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, nos
extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as
muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar em passo de ganso para a miséria e
os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados
dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos em nossa inteligência, empedernidos e
cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de inteligência,
precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e
tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza
dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à
fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha
voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados,
homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres
humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não
desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que produto
da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o progresso humano. Os
homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo
arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a
liberdade nunca perecerá.
Soldado! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que
vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos,
as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo,
que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão!
Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas
almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem
amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Luteis pela liberdade! No
décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro
do homem – não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está
em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de
criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e
bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia –
usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo
bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e
segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas,
só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores
liberam-se, porém, escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo,
abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam
à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês,
Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva
para a luz! Vamos encontrando um mundo novo – um mundo melhor, em que os homens
estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A
alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a
luz da esperança. Ergue os olhos Hannah! Ergue os olhos!" CHARLES CHAPLIN
(Extraído do Filme "O Último Ditador")
Muito eloquente o discurso do mais famoso ícone do cinema mudo !! A visão de Charles Chaplin era muito sensível e apurada , condena os maiores problemas da humanidade mas também aponta as soluções . Esse discurso é contemporâneo e se aplica a situação do homem que nunca foi mais desumano , mecanizado e artificializado do século 21 .
ResponderExcluir